"Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos" Manoel de Barros

quarta-feira, junho 11, 2008

Redondamente eu

Enigma. Cores. Retalhos.
Útero. Óvulo. Flores abdominais.
Navalhadas no corpo
no de fora, no de dentro.
Navalheiro deglutido com voracidade
a retalhar desde o ventre
as redondas formas do ser.

Cabelos esvoaçantes
cortados pela raiz.
Vulva sertão-certinha
com desejo de mares.
Pêlos que querem eriçar.
Boneca-mulher civilizada
a doer no espelho.

Trompas. Tripas. Cérebro.
Pés, fibra
Mãos trêmulas abrem a caixola
p´ra que a boneca se vá.

E do espelho
quase se ouve, fininho,
o despertar d´uma voz

adoravelmente humana.