"Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos" Manoel de Barros

sábado, agosto 19, 2006

Solo Feminino


Existe um vazio
que recorda espaços de outrora
Vazio que grita com paixão
no ouvido esquerdo da gente
clamando ao impossível preenchimento

Existe um espaço entre a morte e a criação:
sala branca sem mobília
com restos de cortina velha, poeira,
espelhos por todo lado.
Sala que se fez festa
lambuzou-se de vinho, sonhos tantos
e sexo a noite inteira.
Sala que se fez triste
regada a incertezas, medos, angústias
e portas batidas com força
na cara de quem vem atrás.

Hoje, em silêncio,
assiste a sala com timidez
aos primeiros passos da bailarina
criando uma nova dança

O vazio é aquele espaço
entre o fim e o começo do que vem além.

quinta-feira, agosto 10, 2006


"Porque creo que tan sólo eso puedo ofrecerles: precarios restos de madera"
(Ernesto Sabato, Antes del fim)

Criando fadas em contos
amanheço esplendor
essa parte de mim que quer brilhar.
Rodopio cantigas em samba
antigas memórias de mim,
essa parte que não envelhece.
Pensando no fim,
no momento antes do fim,
anoiteço luz.
E o que era terra
se deságua.
E o que era fogo
se esvai.
Nos escombros de mim
a fé em que não creia:
restos de tábuas
lançados por tantos que nem sabem.
E tateando a noite com os pés
Começamos a madrugar beleza

Quem é Macabéia?



Macabéia é uma mulher com pouco rebuscamento e muitas dores sem lugar de expressão. Datilógrafa em tempos que não se fazem mais máquina de escrever. Sertaneja em chão urbano, numa aceleração que não pode acompanhar. Busca uma alegria não catalogada, um amor que não conhece ou sabe possível, um templo que dê algum sentido à falta de sentido da sua vida. Não tem religião ou amigos, não abraça nenhuma grande causa. Talvez a expressão perfeita da solidão absal que nos toca - a algumas de nós - em algum espaço da vida. Solidão que busca alguma forma para não desmoronar o mundo. Que ensaia um grito, um olhar para fora de si, tentativa alucinada de continuar acreditando na vida, na alegria, nos homens, na arte, na beleza do mundo e no compartilhar como único sentido dessa nossa existência demasiadamente humana.