Abstinência, meu bem, abstinência
Deus me tirou o chão essa noite
“Chão não é coisa necessária
para se andar”
Tem gente que voa
gente que nada
se arrasta por qualquer lugar.
Mas eu aqui, nesses dias diminutos,
estremeço, caio e babo
com a falta de chão para pisar.
E como não tem chão que me ampare
vou caindo, caindo sem fim
ante os olhares
tão exigentes, tão condescendentes
tão envergonhados, tão preocupados
comigo.
Cantinho de lágrima
no olho esquerdo.
Que serei de mim
que nos últimos dois anos
não tenho feito outra coisa
senão cair?
Cair, cair sem fim
e tentar me segurar
nos galhos secos que há.
O que eu tive
– patinho feio que sou,
peixe fora d´água –
foi overdose de família
nessa semana santa.