"Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos" Manoel de Barros

sábado, setembro 16, 2006

Quando mudar o que se é parece difícil demais

Hoje eu estou tristinha...

Esse bicho esquisito que tenho por dentro... Que me aperta e me faz refém. Não posso agir senão por sua ordem e dominação. E quando não há ordem, é ainda pior: paralisada fico.
Esse bicho me faz dependente, me põe no colo e, se não há colo, me faz doer. Me lembra das coisas todas que quero ser, mas está tudo tão distante (de mim). Ele vive num buraco enorme cavado dentro de mim, não sei se na perna, no tórax ou no abdomem. Talvez em todos os lugares.
E sempre que me sinto livre e penso que posso fazer de mim o que quiser e olho o universo como uma bola imensa de possibilidades, o bicho futuca o buraco. Então vai subindo aquela sensação que só ao homem é possível. Aquela dor que começa na barriga, se expande pro corpo todo e volta para a barriga novamente, onde se aloja e diz: você é assim. As coisas são assim. E não há nada que possa fazer para ser diferente.
E eu, que nunca vi um cão, ou qualquer outro ser, desejar ser o que não é, fico sem saber se riu ou choro por ser humana. Humana e triste, com um buraco que parece caber o mundo dentro. Eu, que sou tão pequena, me assombro de guardar em mim um buraco tão grande. Me assombro da minha necessidade canina de um homem para cuidar de mim. Me assombro da minha necessidade humana de um outro para dizer quem sou.

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